quarta-feira, maio 30, 2012

Faz lembrar na época de 1975 em que no jogo do pião o vencedor era o que destruía o pião do adversário. Com tal força de impacto a madeira rachava e os 50 centavos resumiam-se a desmotivação de quem os investiu. Pois nos tempos que correm, em que o rodopio é constante à volta da governação deste país, nada mudou. E tudo aquilo que foi investido a tempos atrás e que nos levou ao que solucionamos hoje está comprometido em temos de resposta rápida e segura devido ao leque de cortes e mais cortes. Quase que não víamos por cá a solução para o nosso buraco de setenta e oito mil milhões até mesmo quando rudemente a Finlândia apresentou entrave ao fundo monetário externo, mal eles sabem, e nós na maioria, que a maior recolha de alimentos e roupa em Portugal, foi na década de quarenta para tirar os finlandeses da miséria que os afundava. E esta, hein?

Pois bem, está de Parabéns o FMI, em resposta à má governação dos nossos políticos lá de cima, por vir destruir os sonhos dos cientistas em percurso de propostas de projectos que na ambição de todos correspondem a solução dos males que por aí andam. Os cortes na Ciência e na Investigação indicam problemas sérios, tanto para os que já nesse rodopio estão arduamente a exercer como para os mais novos que anseiam por novas respostas devidamente comprovadas. Menos mal que pararam com a infeliz brincadeira de quem queria construir a linha do TGV. Já corria o ano 1864, em que Eça de Queirós estudava em Coimbra e ia no regional! E não é por isso que não é reconhecido lá fora.

Mas regressando ao que interessa… a hipocrisia apoderou-se de Norte a Sul da Assembleia da República, no que diz respeito ao financiamento da Investigação. Já nos davam poucos trabalhos a Associação Protectora dos Animais com a ideia cerrada que não querem cá o biotério (local onde estão os animais para experimentação com as devidas condições de sobrevivência. Sim porque até eles vem de Espanha!). Ainda que estes sejam a ponte entre os ensaios em células de cultura para os humanos. Já para não falar na resma de burocracias que temos de seguir até apresentarmos publicamente um artigo que seja. Se eu lhe disser que sem uma aspirina, não vai conseguir ir para o escritório com essa dor de cabeça, apresentar e interpretar o projecto executado por si anteriormente ao seu patrão, é porque a experimentação animal nos fez perceber que os receptores dos nervos emissores ou transmissores do estímulo a dor são bloqueados com a substância activa da aspirina! E você não tomava, nem estava à venda se quer, se a dose de efeito não fosse determinada nos ratinhos anteriormente. É assim, mesmo que lutem contra isso e que nos cortem as pernas para andar, é assim. A ciência existe e graças a Deus (e a alguns cientistas também) e nós precisamos de financiamento para desenvolver os estudos necessários, precisamos de material adequado e equipamento avançado, porque não é com o preço do pião que se vê uma criança de doença crónica a sorrir de cura, não se atenua a dor do idoso aquando a sua dolorosa perda de agilidade e capacidade, precisamos de deslocação ao estrangeiro porque os nossos melhores são reconhecidos lá fora, aqui dentro só nos vêem como mau investimento, precisamos de condições porque os ratinhos tem de comer e beber e nós também!

Já agora, parabéns a António Champalimaud, que sabia que a ciência é o futuro de um mundo menos doente, menos doloroso e mais promissor quando confiou que os cientistas comprovam. Porque nós queremos e fazemos!


Beatriz Brites Teixeira: Investigadora

terça-feira, novembro 15, 2011

É tudo um problema de pontes


Nestas linhas, alinho algumas ideias que me parecem importantes numa altura em que Águeda se torna notícia, infelizmente pelas piores razões.

Poderia dar o meu ponto de vista sobre o assunto, como tantos outros, oportunos ou não, mas pego antes no triste exemplo da autarquia ao não intervir a tempo na ponte de Lamas do Vouga, para alertar para outros exemplos que me preocupam, que também são avisados e ignorados e mais tarde, acabam por ruir seja de que forma for.

Falo-vos das políticas de Juventude da nossa autarquia.

Na passada Assembleia Municipal, sobre o estado do concelho, a deputada eleita pelo PSD, Joana Santos, levou a cabo a apresentação de um conjunto de propostas, em consonância com a JSD de Águeda, todas sobre a juventude de forma a criar e melhorar formas de fixar, empregar e consciencializar esta classe da população, completamente esquecida pelo actual executivo, onde se referiu ao estado do município nesta matéria, abordando aspectos como se existe alguma estratégia integrada e única para a juventude em Águeda, a insegurança crescente, a falta de qualquer apoio ao empreendedorismo jovem e a fixação dos jovens em Águeda cidade e freguesias limítrofes.

As pessoas, em especial os jovens, fogem de Águeda, não tem habitação barata no concelho, não tem empregos nem formação adequada às procuras das indústrias locais, e o pouco que tem sido feito como é o exemplo da Incubadora, no terreno ainda não deu provas concretas.

As pontes entre o município e os jovens estão a degradar-se e cair. Cada dia que se investe milhões de euros em parques e jardins, em que se partem avenidas e que se prometem mais festas para se ir de bicicleta, existem pontes a cair, pois é apenas mais gente que se afasta e que não observa um cenário animador no futuro, pelo menos, na terra onde nasceu e cresceu.

Nos não precisamos de ciclovias que derrapem, precisamos de pontes que não caiam.


Sérgio Neves, Presidente da Comissão Politica da JSD Águeda

sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Coragem e Responsabilidade (II)

Mas a coragem não é só necessária nesses momentos. É preciso coragem, também em momentos de silêncio, de acalmia mediática. Aí a coragem é outra: a coragem de limpar armas, arrumar a casa e seguir mais aprumado.

A retirada de consequências políticas de tomadas de posições específicas, muitas vezes das mais silenciosas, de discursos que não se ouvem e que não se lêem é reveladora da nossa posição na política. A falta de coragem nunca pode ser esquecida, nem se espera que outra seja a consequência, mesmo pelo próprio cobarde.

Quando alguém assume publicamente um comportamento sabe quais as consequências que o espera. No processo de decisão, cada um de nós avalia a bondade, o risco e as consequências que daí podem advir. Se não existe a posterior consequência, torna aquele que tomou a decisão irresponsável e inconsciente, deixa os outros desacreditados e deixa os responsáveis por uma repercussão, descredibilizados e frouxos.

Ademais, se a tomada de posição for contrária a princípios políticos, classificando-a, dessa forma, de uma má decisão, de que vale manter confiança em alguém que já sabemos qual a sua natureza?

A confiança quer do abrangido pela decisão, quer dos outros companheiros estará irremediavelmente comprometida e a consequência política a não existir, determinará por si só a nossa própria inexistência. Porque de facto, naquele momento, no momento em que a coragem é pedida aos outros, nós próprios fugimos da coragem que devíamos ter, e não existimos enquanto grupo.

A coragem entrará então no campo da responsabilidade. Quando pedimos que um determinado governante seja corajoso, queremos dele um determinado comportamento que achamos correcto segundo os nossos valores. E é por esse facto que mais tarde, não havendo correspondência, retiramos a consequência lógica e não votamos nessa pessoa, ou seja, assumimos uma posição de coragem e responsabilidade.

Ao votarmos na mesma pessoa, mantendo o status quo ou quando nos abstraímos dessa votação, colocando-nos de parte, passamos a ser parte do problema e não da solução.

A abstenção, que não seja propositada, é um sinal claro da falta de coragem e responsabilidade. E todos nós lutamos, em todas as eleições contra ela. Esse e este combate por si só são actos de coragem e de responsabilidade, pois, desprovidos de interesse pessoal, assumem não querer manter a situação actual das coisas.

É por isso que, nos dias de hoje, não podemos pedir coragem a políticos que conhecemos pela sua falta intrínseca de coragem, a políticos que conhecemos pela sua actuação pública e política desconcertada se, no mínimo, nós próprios não assumimos posições de coragem.

Note-se que uma posterior posição levará sempre a uma consequência, mas veja-se: há várias formas, silenciosas ou não, discretas ou não, internas ou externas de tomar uma decisão; uma posição de coragem baseada na verdade e sem artificialidade nunca verá a sua razão ou bondade ser discutida, ter coragem é ser responsável e, por último, a coragem é sempre recompensada!


João Paulo Veiga